Por Fernando Lanzer
O lucro é apenas uma condição de sobrevivência da empresa: sem lucro a empresa quebra e deixa de ser fonte de empregos e de produtos e serviços para a sociedade. Mas não devemos confundir isso com o objetivo da empresa.
Compare com uma pessoa: respirar é condição necessária para sobreviver… mas esse não é seu objetivo na vida. Você pode não ter um objetivo nobre e inspirador, como salvar o País ou descobrir a cura do câncer. Pode ter um objetivo mais modesto, como trabalhar produtivamente e amar sua família. Entretanto, seu objetivo na vida vai além do respirar. Seu objetivo na vida vai além da satisfação das necessidades básicas descritas por Maslow como fisiológicas e de segurança.
Na empresa, o lucro está como uma necessidade básica. Se o lucro fosse realmente o objetivo, melhor seria mudar para o tráfico de drogas ou de armas, onde as margens de lucro são muito maiores. Ao invés disso, as empresas fazem escolhas sobre seus produtos e serviços. Infelizmente certos gestores, com grande frequência, esquecem disso e pensam, erradamente, no lucro como objetivo.
O objetivo de uma empresa é oferecer determinados produtos e/ou serviços para a sociedade, em troca de pagamentos feitos por seus clientes. Esses pagamentos formam uma receita, que deve ser maior do que as despesas, constituindo assim o lucro. A sociedade concede à empresa uma licença para operar, explicitamente e também implicitamente. Empresas que infringem à lei podem perder essa licença de operação. Antes disso podem perder o apoio da opinião pública, podem sofrer boicotes… ou simplesmente sofrer a evasão dos seus clientes em potencial, com isso perdendo receitas e eventualmente indo à bancarrota.
Para funcionar, a empresa precisa de lucro. Precisa também de funcionários, sem os quais não funciona. E precisa satisfazer seus clientes. Sem clientes satisfeitos a empresa não tem receita e não tem lucro.
E precisa, como dizem José Carlos Teixeira Moreira e o pessoal da Escola de Marketing Industrial, ter o lucro merecido. Ou seja: seus produtos e serviços agregam valor aos seus clientes satisfeitos, que pagam o preço justo pelo valor recebido e geram desta forma um lucro merecido pela empresa.
Já os funcionários precisam trabalhar, produzir e serem remunerados adequadamente conforme o valor agregado por seu trabalho. Marx chamou isso de mais valia, mas você não precisa ser marxista para reconhecer que o trabalho agrega valor e merece remuneração e recompensas financeiras e não financeiras, inclusive um ambiente físico e psicológico adequado e gratificante.
O que nos leva à qualidade da gestão. Gestores qualificados entendem que o objetivo da empresa não é o lucro. Entendem que o lucro é condição de sobrevivência e é consequência do trabalho competente e ético de todos os colaboradores da empresa para satisfazer os clientes e a sociedade como um todo.
Quando falarem para você que o objetivo da empresa é o lucro, discorde. Esclareça. E se a pessoa insistir e ainda for o presidente da empresa em que você trabalha… Talvez seja hora de você pensar seriamente em mudar de emprego e trabalhar numa organização onde os gestores tenham uma noção mais ética dos objetivos da sua empresa.